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O legado do Papa Bento XVI para a Educação Católica

05/01/2023
Por  Gregory Rial

O Papa Bento XVI, que faleceu na última sexta-feira, 31 e será sepultado nesta quinta, dia 05 de janeiro, foi um grande defensor da causa da educação. Ao longo de sua vida exerceu o magistério lecionando teologia. Enquanto pontífice, dirigiu-se inúmeras vezes aos educadores e às instituições de ensino. Ele também falou a estudantes e ao mundo da ciência. 

Ratzinger sempre buscou inspiração em Santo Agostinho, filósofo da patrística cuja mensagem gira em torno da ideia “crer para entender e entender para crer”. Por isso, em seu pontificado, tantas vezes aparece a urgência da formação para a Verdade e para o Amor, denunciando o descaso com que o mundo contemporâneo lida com a formação das crianças e jovens.

Para celebrar o grande dom de Bento XVI dado à Igreja e ao mundo, a ANEC separou algumas de suas ideias sobre a Educação que podem e devem ser lidas em continuidade com o pensamento do Papa Francisco, especialmente acerca do Pacto Educativo Global:

Educar nunca foi fácil

[…] educar nunca foi fácil, e hoje parece tornar-se sempre mais difícil. Sabem-no bem os pais, os professores, os sacerdotes e todos os que desempenham responsabilidades educativas directas. Fala-se por isso de uma grande “emergência educativa”, confirmada pelos insucessos com os quais com muita frequência se confrontam os nossos esforços para formar pessoas sólidas, capazes de colaborar com os outros e dar um sentido à própria vida. É espontâneo, então, dar a culpa às novas gerações, como se as crianças que nascem hoje fossem diversas das que nasciam no passado. Além disso, fala-se de uma “ruptura entre as gerações”, que certamente existe e pesa, mas que é o efeito, e não a causa, da malograda transmissão de certezas e valores.

Carta sobre a tarefa urgente da formação das novas gerações, janeiro de 2008.

Educar nos valores: uma ânsia contemporânea

[…] quando as bases são abaladas e faltam as certezas fundamentais, a necessidade daqueles valores volta a fazer-se sentir de modo urgente: assim, em concreto, aumenta hoje o pedido de uma educação que o seja verdadeiramente. Pedem-na os pais, preocupados e muitas vezes angustiados com o futuro dos próprios filhos; pedem-na muitos professores, que vivem a triste experiência da degradação das suas escolas; pede-a a sociedade no seu conjunto, que vê postas em dúvida as próprias bases da convivência; pedem-na no seu íntimo os próprios jovens, que não querem ser deixados sozinhos perante os desafios da vida. Quem crê em Jesus Cristo tem depois um ulterior e mais forte motivo para não ter receio: de facto, sabe que Deus não nos abandona, que o seu amor nos alcança onde estamos e como somos, com as nossas misérias e debilidades, para nos oferecer uma nova possibilidade de bem.

Carta sobre a tarefa urgente da formação das novas gerações, janeiro de 2008.

As exigências da educação: amor, resiliência, liberdade e disciplina

[…] pode ser útil determinar algumas exigências comuns de uma autêntica educação. Ela tem necessidade antes de tudo daquela proximidade e confiança que nascem do amor: penso na primeira e fundamental experiência do amor que as crianças fazem, ou pelo menos deveriam fazer, com os seus pais. Mas cada verdadeiro educador sabe que para educar deve doar algo de si mesmo e que só assim pode ajudar os seus alunos a superar egoísmos e a tornar-se por sua vez capazes de amor autêntico.

Há já numa criança um grande desejo de saber e de compreender, que se manifesta nas suas contínuas perguntas e pedidos de explicações. Portanto a educação seria muito pobre se se limitasse a dar noções e informações, e deixasse de lado a grande pergunta em relação à verdade, sobretudo àquela verdade que pode servir de orientação na vida.

Também o sofrimento faz parte da verdade da nossa vida. Por isso, procurando proteger os mais jovens de qualquer dificuldade e experiência do sofrimento, arriscamos de fazer crescer, apesar das nossas boas intenções, pessoas frágeis e pouco generosas: a capacidade de amar corresponde de facto à capacidade de sofrer, e de sofrer juntos.

Chegamos assim, queridos amigos de Roma, talvez ao ponto mais delicado da obra educativa: encontrar um justo equilíbrio entre a liberdade e a disciplina. Sem regras de comportamento e de vida, feitas valer dia após dia também nas pequenas coisas, não se forma o carácter e não se está preparado para enfrentar as provas que não faltarão no futuro. Mas a relação educativa é antes de tudo o encontro de duas liberdades e a educação com sucesso é formação para o reto uso da liberdade. Mas à medida que a criança cresce, torna-se um adolescente e depois um jovem; portanto devemos aceitar o risco da liberdade, permanecendo sempre atentos a ajudá-lo a corrigir ideias e opções erradas. O que nunca devemos fazer é favorecê-lo nos erros, fingir que não os vemos, ou pior partilhá-los, como se fossem as novas fronteiras do progresso humano.

Carta sobre a tarefa urgente da formação das novas gerações, janeiro de 2008.

O papel da autoridade na educação

[…] a educação nunca pode prescindir daquela respeitabilidade que torna credível a prática da autoridade. De facto, ela é fruto de experiência e competência, mas adquire-se sobretudo com a coerência da própria vida e com o comprometimento pessoal, expressão do amor verdadeiro. Portanto, o educador é uma testemunha da verdade e do bem: sem dúvida, também ele é frágil e pode falhar, mas procurará sempre de novo pôr-se em sintonia com a sua missão.

Carta sobre a tarefa urgente da formação das novas gerações, janeiro de 2008.

Esperança: a alma da educação

[…] a alma da educação, como de toda a vida, só pode ser uma esperança certa. Hoje a nossa esperança está insidiada de muitas partes e corremos o risco de nos tornarmos, também nós, como os antigos pagãos, homens “sem esperança e sem Deus neste mundo” como escrevia o apóstolo Paulo aos cristãos de Éfeso (Ef 2, 12). Precisamente daqui nasce a dificuldade talvez mais profunda para uma verdadeira obra educativa: na raiz da crise da educação está de facto uma crise de confiança na vida.

Portanto, não posso terminar esta carta sem um caloroso convite a ter Deus como nossa esperança. Só Ele é a esperança que resiste a todas as desilusões; só o seu amor não pode ser destruído pela morte; só a sua justiça e a sua misericórdia podem sanear as injustiças e recompensar os sofrimentos suportados. A esperança que se dirige a Deus nunca é esperança só para mim, é sempre também esperança para os outros: não nos isola, mas torna-nos solidários no bem, estimula-nos a educar-nos reciprocamente para a verdade e para o amor.

Carta sobre a tarefa urgente da formação das novas gerações, janeiro de 2008.

As escolas abrem um horizonte maior

Nas vossas escolas existe sempre um horizonte mais vasto, acima e além de cada uma das matérias do vosso estudo e das várias capacidades que vós ides adquirindo. Todo o trabalho que levais a cabo está inserido no contexto do crescimento na amizade com Deus, e é de tal amizade que flui todo aquele trabalho. Deste modo, aprendeis não só a ser bons estudantes, mas bons cidadãos e boas pessoas. Na medida em que progredis no vosso percurso escolar, tendes que fazer escolhas a propósito das matérias do vosso estudo e começar a especializar-vos para aquilo que no futuro haveis de fazer na vida. Isto é correto e oportuno. Porém, recordai que cada matéria que vós estudais está inserida num horizonte mais amplo. Nunca vos reduzais a um horizonte limitado. O mundo tem necessidade de bons cientistas, mas uma perspectiva científica tornar-se-á particularmente restrita, se ignorar as dimensões ética e religiosa da vida, do mesmo modo como se tornará angusta, se rejeitar a contribuição legítima da ciência para a nossa compreensão do mundo. Temos necessidade de bons historiadores, filósofos e economistas, mas se a percepção que eles oferecem a respeito da vida humana, no contexto do seu campo específico, estiver centrada numa perspectiva demasiado limitada, eles podem desviar-nos seriamente.

Discurso aos estudantes das escolas católicas britânicas, setembro de 2010.

Uma escola católica deve formar para a santidade

Uma boa escola oferece uma formação completa para toda a pessoa. E uma boa escola católica, acima e além disto, deveria ajudar os seus estudantes a tornar-se santos. 

Discurso aos estudantes das escolas católicas britânicas, setembro de 2010.


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