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Uma carta do CONIC para o Brasil dos dias atuais

16/08/2019
Por  Verlindo

“Por que razão me mostras a iniquidade, e me fazes ver a opressão? Pois que a destruição e a violência estão diante de mim, havendo também quem suscite a contenda e o litígio. Por esta causa a lei se afrouxa, e a justiça nunca se manifesta; porque o ímpio cerca o justo, e a justiça se manifesta distorcida” (Habacuque 1:3,4)

O Brasil está em crise ou o Brasil é uma crise permanente?

O Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC) está preocupado com: o aprofundamento da violência; o racismo religioso que se materializa na intolerância religiosa; as ameaças à soberania nacional; a expansão da mineração em reservas indígenas e áreas de proteção; a desconfiguração das políticas de proteção ambiental; a liberação exacerbada de agrotóxicos; a violação de direitos; as prisões políticas; as privatizações de setores estratégicos; o aumento do desemprego; a precarização das relações de trabalho aprofundadas a partir da Reforma Trabalhista; o desmonte de políticas educacionais, em especial, no ensino superior; as intimidações e perseguições de profissionais da saúde e da educação; mudanças no sistema previdenciário que afetam as populações mais vulneráveis; as invasões a territórios indígenas; as agressões contra camponeses e camponesas sem-terra; os sinais evidentes de violação da Constituição, do Código da Magistratura e da Lei Penal; a mudança na Comissão Nacional da Verdade e o total desrespeito à memória das pessoas mortas e desaparecidas…

Somam-se a isso declarações públicas dos mandatários do país que destoam de todo bom senso, deixando perplexos políticos das mais diferentes linhas ideológicas. No âmbito internacional, o cenário também não é diferente: temos um Brasil que perde credibilidade dia após dia, em especial por causa do ataque ao saber histórico-científico que colocam em xeque, por exemplo, a questão do aquecimento global.

História

É possível que o Brasil nunca tenha sido confrontado tanto com as mazelas que persistem ao longo de sua história: escravização dos povos indígenas e africanos, autoritarismo, colonialismo, violência social e religiosa. Historicamente, iniciativas de avanço civilizatório são sistematicamente bloqueadas, entre elas, a inclusão e bem-estar social, a participação democrática, as relações entre capital e trabalho, o acesso universal aos bens públicos de habitação, transporte, educação e saúde. Soma-se a isso sistemática destruição da memória nacional, impedindo reparações às vítimas da escravidão e das ditaduras.

Religião

Tal crise afeta também a religião, em especial, o cristianismo, que tem sido instrumentalizado para justificar e legitimar a violência, o racismo, a misoginia, a intolerância… o mesmo cristianismo que tem sido utilizado para legitimar o capitalismo em seu viés mais cruel e nada humanizado.

Por anos, a teologia ecumênica latino-americana proclamou o compromisso e o testemunho públicos de fé em favor de transformações estruturais de nosso continente, caracterizado por diversos tipos de desigualdades. Esta teologia provocou as Igrejas a viverem a sua responsabilidade social e, por isso, sofreu perseguições e foi sistematicamente silenciada.

No entanto, não se fazem perguntas e nem questionamentos às teologias subordinadas à lógica do mercado que proclamam e vociferam moralismos e exclusivismos religiosos, que aceitam estabelecer relações pouco evangélicas com a política representativa e, ao mesmo tempo, aprisionar a fé em Jesus Cristo em jaulas de ouro, abstendo-se em denunciar os rostos atuais do Cristo crucificado, revelados na terra ferida, na violência da especulação financeira, na ausência de direitos.

Esperançar

Enquanto cristãos e cristãs, temos o compromisso de não perder a esperança! Não podemos tolerar que nossos cultos sejam articulados para sustentar políticas contrárias aos direitos humanos. Deus não suporta “maldade com festa religiosa” (Is 1:13).

Rogamos a Deus por sabedoria, bom senso e capacidade de compaixão e diálogo, afinal, no Brasil que queremos, todos e todas poderão, com liberdade e respeito às diferenças, trabalhar por uma sociedade mais justa. #VamosEsperançar


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