O Ministério da Educação (MEC) apresentou, na segunda-feira, 7/8, um documento que destaca aspectos levantados na consulta pública realizada para avaliação e reestruturação da Política Nacional de Ensino Médio e elenca propostas para cada etapa.
De acordo com o MEC, essas propostas serão objeto de discussão com entidades educacionais para que, até o próximo dia 21, seja apresentada uma versão final do documento.
Os principais pontos destacados pela ANEC no Sumário Executivo e da Proposta do MEC – Portaria n. 399, de 8 de março de 2023, que institui a consulta pública para a avaliação e reestruturação da Política Nacional de Ensino Médio, podem ser conferidos abaixo e foram enviados por meio de circular às associadas.
Objetivos: dialogar com os gestores dos sistemas de ensino, a comunidade escolar, os profissionais do magistério, os estudantes, os pesquisadores e os especialistas do campo da educação bem como a sociedade civil; coletar subsídios para orientar as decisões acerca da Política Nacional de Ensino Médio.
Instrumentos utilizados: audiências públicas; oficinas de trabalho/reuniões com entidades; seminários/webinários, e consultas on-line com estudantes, professores e gestores escolares sobre a experiência de implementação do Ensino Médio no país.

Consulta em números
- 12 webinários, com a participação de 42 especialistas, e acesso ao conteúdo por 4.920 no portal do MEC;
- 4 audiências públicas com as entidades que compõem a coordenação da consulta pública – CNE, FNE, Foncede e Consed;
- a Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Educação (Anped) realizou 5 seminários com a participação de 16 pesquisadores – 5.870 acessos no canal do MEC;
- Encontro Nacional de Estudantes em Brasília, reunindo 180 estudantes do Ensino Médio de todos os estados do país;
- MEC recebeu 16 entidades e 7 documentos com análises e proposições;
- Consulta on-line pela Plataforma Participa+Brasil com 11.024 respondentes;
- Consulta on-line (via WhatsApp) com 139.159 participantes: 102.338 estudantes; 1.075 jovens que não se identificaram como estudantes; 30.274 professores e 5.480 gestores.
Principais aspectos:
- Carga horária: posição majoritária de críticas à redução da carga horária na Formação Geral Básica (FGB) para até 1.800 horas. FGB sólida, indicando a necessidade de uma carga horária mínima entre 2.100 e 2.400 horas. Progressiva expansão do ensino em tempo integral e da oferta da educação profissional.
- Organização Curricular: necessidade de maior clareza e orientações acerca dos itinerários formativos. Atenção aos diferentes contextos e preocupação com o aumento da desigualdade. Alternativas para a recomposição dos componentes curriculares no ensino médio.
- Exame Nacional do Ensino Médio: diversidade de alternativas e propostas. A maioria aponta para a necessidade de priorização da Formação Geral Básica no exame.
- Equidade educacional, direitos humanos e participação democrática dos estudantes: preocupação com o impacto das mudanças e a necessidade de orientações específicas para juventudes do campo, quilombolas, indígenas, ribeirinhas, com deficiência e de baixa renda, de forma a assegurar equidade educacional e inclusão de saberes e práticas ligados a esses públicos.
- Educação a Distância (EaD): resistência da maioria pela oferta da modalidade a distância e apontamentos sobre possíveis exceções em face de necessidades específicas.
- Infraestrutura: importância de corrigir desigualdades e de investimentos para garantir uma infraestrutura mínima para cada escola; destaca-se a demanda pela construção de uma política de investimentos articulada, unindo o governo federal e os governos estaduais, para melhorar as estruturas escolares existentes e disponibilizar recursos pedagógicos e de tecnologia.
- Educação Profissional e Tecnológica (EPT): destacam-se o relevante apelo da modalidade entre os estudantes, a demanda por mais investimentos na articulação da EPT com o ensino médio e a necessidade de melhor definição da utilização do reconhecimento de notório saber como critério de alocação para docência.
- Formação e valorização dos professores: destacam-se a demanda pela revogação das atuais diretrizes curriculares para licenciaturas e a criação de um programa de formação continuada para professores e gestores que atuam no Ensino Médio.
- Política de permanência: dificuldades que impedem os jovens mais pobres de continuar e concluir o ensino médio. Destaca-se o pleito pela criação de uma bolsa e/ou poupança para estudantes vulneráveis de ensino médio de todo o Brasil.
- Tempo Integral: ênfase na necessidade de apoio federal para a expansão das matrículas e o desafio de elaborar orientações curriculares capazes de associar a expansão da jornada a uma concepção de educação integral de tempo integral. Necessidade de articulação de tempo integral à EPT e de não produzir exclusão escolar na oferta de EJA e ensino médio noturno.
- Avaliação: demanda pela criação de um repositório de boas práticas estaduais e um comitê gestor nacional, assim como a necessidade de formação para os gestores estaduais.
- Papel do MEC: reforço à importância do papel do órgão como interlocutor com outras entidades e atores envolvidos no NEM. Destaca-se a demanda pela liderança do Ministério na instituição do Sistema Nacional de Educação e por seu papel na coordenação e normatização da Política Nacional de Ensino Médio.
Proposta MEC – Portaria nº 399, de 08 de março de 2023, que institui a consulta pública para a avaliação e reestruturação da política nacional de Ensino Médio
- Recompor a carga horária destinada à Formação Geral Básica (FGB) para 2.400 horas, podendo haver exceção na oferta de cursos técnicos (de 800 e 1000 horas), fixando, nesse caso, um mínimo de 2.200 horas de FGB. Para cursos técnicos de 1.200 horas, o MEC priorizará, em colaboração com os estados, ampliação de jornada por meio do Programa Escola em Tempo Integral, instituído pela Lei nº 14.460, de 31 de julho.
- Definir os componentes curriculares cujos saberes precisam ser contemplados na oferta das áreas do conhecimento. Sugere-se que espanhol (alternativamente), arte, educação física, literatura, história, sociologia, filosofia, geografia, química, física, biologia e educação digital passem a figurar na composição da FGB.
- Reduzir o número de itinerários formativos, que passam a se chamar percursos de aprofundamento e integração de estudos, de cinco para três, conforme segue:
– Linguagens, Matemática e Ciências da Natureza.
– Linguagens, Matemática e Ciências Humanas e Sociais.
– Formação técnica e profissional. Referenciais nacionais sejam definidos, em instrumento infralegal, pelo Ministério, em conjunto com o Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed).
- Vedação ao uso de Educação a Distância na Formação Geral Básica e que se autorize o uso de até 20% na oferta para a Educação Profissional Técnica, sem prejuízo de previsão excepcional para situações específicas.
- Elaborar, em conjunto com os sistemas de ensino, documento orientador do reconhecimento de notório saber para atuação no ensino médio, com ênfase na formação técnica profissional.
- Manter o Enem 2024 circunscrito à FGB e que seu formato para os anos seguintes seja objeto de debate com a sociedade, no contexto da elaboração do novo Plano Nacional de Educação (PNE).
- O MEC anunciará estratégias, em conjunto com os sistemas de ensino e a sociedade civil, para a recomposição das aprendizagens dos estudantes afetados pela pandemia e pelos problemas de implementação do NEM. Proposta que promova a permanência dos estudantes, em especial os que se encontram em situação de vulnerabilidade; com fomento da oferta de educação profissional técnica e perspectiva de ampliação das matrículas em tempo integral.
É possível identificar, também, os pontos positivos e os desafiadores, levantados pela organização Todos pela Educação.
O que é positivo:
✅ não é revogação
✅ aumento da formação geral básica – FGB (tirar o piso de 1.800 horas)
✅ manutenção da flexibilização e possibilidade de aprofundamentos
✅ manutenção da integração da Educação Profissional no Ensino Médio
Pontos de atenção:
❎FGB com cargas horárias distintas, 2400 para o regular e 2200 para Educação Profissional. O que ficará de fora no EPT? Como organizar as duas ofertas numa mesma escola?
❎ Componentes curriculares adicionais na FGB sem clareza e risco de um Ensino Médio inchado que pretende muito e não alcança nada. Esse debate deve ser feito no âmbito da revisão da Base Nacional Comum Curricular.
❎ Definição de 2 áreas de aprofundamentos, deixando pouca margem às gestões estaduais. Melhor seria uma base curricular dos aprofundamentos e maior flexibilidade de implementação nas realidades distintas nos Estados.