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ANEC promove workshop para líderes da Educação Superior

25/05/2023
Por  ANEC Comunicação

Liderança e postura estratégica e o impacto da pandemia nas universidades católicas foram os temas do Workshop de Alta Liderança da Educação Superior, promovido pela Associação Nacional de Educação Católica do Brasil (ANEC). Para debater o assunto, a ANEC convidou a reitora da Universidade Católica Portuguesa e presidente da Federação Internacional de Universidades Católicas (FIUC), Isabel Capeloa Gil, que compartilhou sua experiência na instituição. A formação on-line aconteceu na última terça-feira (23) e contou com a presença de reitores, pró-reitores, coordenadores, diretores e lideranças de instituições de ensino superior católicas associadas à ANEC.

A professora afirma que, quando se fala de liderança, a discussão pode ficar contaminada por um discurso em torno de modelos de gestão orientados por práticas empresariais. “É certo que não somos organizações empresariais. O estudante não é um cliente. Ele é um participante da comunidade. É um stakeholder, mas não é um consumidor. O nosso produto não é um produto material. A nossa proposta é criar valor com valores. Valor esse que ultrapassa a dimensão fiduciária do valor econômico. Nós formamos pessoas”, afirma.  “Somos organizações sim, mas diferentes. Vivemos em mundo real e nos deparamos com problemas econômicos financeiros reais. Dessa forma, temos que incutir princípios de boa governança e de gestão eficiente”. 

Em Portugal, as universidades católicas não pertencem ao universo da educação privada, mas são consideradas instituições de interesse público. Dentro dessa lógica, os reitores são considerados servidores da instituição e, nesse sentido, é preciso introduzir modelos de gestão eficiente, sem desperdiçar recursos. “O nosso objetivo é continuar a contribuir sempre da forma mais objetiva e com maior qualidade para a capacitação da sociedade para o avanço do conhecimento. Percebemos que só sociedades conhecedoras, que desenvolvem e cultivam a ciência, é que podem ser verdadeiramente robustas a aquilo que são as lógicas do populismo”, comenta Isabel. “Portanto, podem criar pessoas íntegras, cidadãos aptos a reagir e fazer escolhas responsáveis.

Gestão eficiente

Segundo a reitora, o modelo de gestão eficiente deve estar conectado à transparência e ética. “É preciso aplicar um conjunto de políticas e estratégias de desenvolvimento da instituição que sejam, por um lado, partilhadas pela comunidade, claras e associadas a um código de ética, com o qual as lideranças estejam absolutamente comprometidas. Se não não dermos o exemplo, nós não conseguimos transformar as nossas organizações e não conseguimos formar futuros profissionais”. 

A professora aponta que as universidades trabalham com uma gestão de potencial e que estão sempre incompletas, sempre em evolução. “O projeto que desenvolvemos deverá, para ser verdadeiramente uma universidade, continuar a ser um projeto de forma arriscada. A universidade não é um espaço seguro, no sentido em que nos limitamos a aquilo que as vozes e mentes querem ouvir. Nós somos um lugar de risco, onde se ousam afirmar conhecimentos disruptivos, ir contra a corrente”, diz. “E nas universidades católicas, é onde sempre, inquestionavelmente, defendemos uma ciência a serviço da dignidade da pessoa, do planeta, de uma forma orgânica, contra as tendências bem pensantes. Enquanto universidade, nós temos o privilégio de gerir o potencial desses estudantes e que farão o seu caminho de forma individual e com escolhas conscientes”. Isabel também afirma que é função da liderança de uma universidade católica orientar para uma gestão de potencial dos estudantes, professores, colaboradores e parceiros externos.  

Crise nas universidades

Isabel ressalta que, nos últimos anos, as “academias corporativas” ganharam muito espaço no setor. São instituições que permitem a entrada de formandos sem educação formal e que oferecem formações focadas em competências específicas reduzidas para o desempenho de uma determinada função – de acordo com o que o mercado atual exige. “Temos que ficar atentos ao impacto dessas formações. Não só na organização dos saberes, mas na própria capacidade de subsistência de instituições de ensino superior menores. Precisamos pensar que estruturalmente a nossa missão é formar profissionais, pessoas e também trazer a sabedoria ao mundo. Manifestar aquilo que é a presença de Deus no universo cada vez mais. 

O que está em discussão é a função social e ética das universidades, segundo a reitora. “Como conseguimos conciliar, por um lado, a necessidade de subsistência econômica e financeira, o modelo e a missão estratégica,  se a função e finalidade da universidade é meramente a de formar para as necessidades do mercado?”, questiona. “Costumo dizer que a função de uma universidade não é ser uma agência de empregos. Somos muito mais do que isso. A importância da universidade não se esgota na mensurabilidade da empregabilidade. É claro que temos que formar profissionais que sirvam a sociedade e que tenham competências para tal, mas não é apenas isso”. 

Segundo Isabel, uma solução é estimular uma metodologia de ensino que não seja tão focada no conteúdo, mas na capacidade do estudante continuar aprendendo sozinho, mesmo após a formação. “Uma aprendizagem baseada na resolução de problemas, com menos enfoque na memorização e mais em uma lógica interpretativa e associativa. Dando aos estudantes os instrumentos para continuarem a sua formação ao longo da vida”, comenta.”Nesse sentido, creio que as universidades católicas estão muito mais bem posicionadaS, por que na nossa missão está a educação integral, de integrar saberes, de permitir associar além daquilo que são competências técnicas, disciplinas formativas que são essenciais para que os nossos graduados sejam capazes de  absorver quadros conceituais distintos fora daquilo que é a sua área de especialidade e que possam se adaptar para um mercado e funções ainda hoje não antecipadas”. 

Reestruturação dos serviços da universidade

A reitora conta que, atualmente, a Universidade Católica Portuguesa está passando por um processo de reestruturação dos serviços de recursos humanos e financeiros. Uma das mudanças foi a criação da “Diretoria de Felicidade”, que trabalha os benefícios e o clima organizacional dentro da universidade. “O objetivo é contribuir para que as pessoas que trabalham na instituição, sejam pessoas felizes. Isso implica em um processo de transformação contínua . É importante dar a liderança os instrumentos para que possamos mudar aquilo que está gerando algum tipo de conflito”, afirma. “Sabemos que as questões financeiras interferem cada vez menos. A estrutura de trabalho, projeto e envolvimento dos colaboradores é crucial para a organização”. Outra diretoria criada foi a de Transformação, que acompanha os projetos de transformação da universidade. “Esse setor obriga a instituição a pensar a longo prazo, no futuro, a introduzir medidas operacionais para atingirmos eficiência em determinados pontos”. 

Pós-pandemia

Para Isabel, a pandemia não foi um momento transformador, mas sim de mudança, pois a transformação implica em algo a longo prazo. “Porque as universidades, as experiências e os relatos do mundo inteiro, mostram que houve a capacidade das universidade conseguirem realizar uma transformação digital, que não foi verdadeiramente um transformação, visto que utilizamos instrumentos que já estavam disponíveis para lecionarmos de forma remota”, aponta. Segundo a reitora, a transformação está ocorrendo agora. “A desigualdade no acesso da internet já era uma realidade e com a pandemia ficou ainda mais evidente.  E o impacto ainda vai durar muito anos. Além disso, pesquisas mostram que houveram grandes perdas de aprendizagem durante esse período, de modo que algumas universidades de prestígio encerraram os seus cursos online e permaneceram apenas no presencial”, afirma. 

Entretanto, ela também ressalta que a saúde mental de alunos e professores é algo que as instituições devem ficar em alerta. “Os estudantes sentiram o isolamento de forma brutal. Ele teve um impacto nas formas de sociabilidade e nos comportamentos. Nós ainda vamos viver esses efeitos nos nossos estudantes, na nova geração de jovens que está chegando na universidade e também nos professores”, finaliza. 

Ao final do workshop, os participantes tiveram a oportunidade de esclarecer dúvidas sobre os modelos de gestão adotados em Portugal e sobre como é feito o monitoramento do planejamento estratégico.

 


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