Notícias

A importância do trabalho das pastorais nas instituições de ensino é tema de debate no Fórum Nacional da Educação Católica

17/06/2022
Por  ANEC Comunicação

Evento reúne educadores e religiosos para debater as tendências e as projeções para a Educação Católica no país

As salas temáticas foram o destaque da tarde do primeiro dia do Fórum Nacional da Educação Católica e Assembleia Geral Ordinária, promovido pela Associação Nacional de Educação Católica do Brasil (ANEC), entre os dias 14 e 15 de junho, em Brasília/DF. Um dos temas abordados foi a “Educação como evangelização: uma pastoral nas fronteiras?”, abordados pela Ir. Raquel de Fátima Cólet, membro da Companhia das Filhas da Caridade – Província de Curitiba e doutora em Teologia, e pela Ir. Carolina Mureb, filha da Caridade de São Vicente de Paulo, pedagoga e teóloga, debateram a importância do trabalho realizado pelas pastorais nas instituições de ensino, visando a experiência da evangelização.

Com o questionamento “Fronteira: limite ou ponto de encontro?”, Raquel aponta a existência de uma grande pluralidade de culturas e religiões nas escolas católicas, que faz os gestores se perguntarem o que é ser uma escola católica nesse contexto. “Existe a possibilidade de olhar para essa fronteira como um limite de diferentes realidades. Mas ela poderia ser muito mais como um ponto de encontro”, afirma a Cólet. “Não é preciso tomar partido de um lado, ainda mais quando estamos correndo atrás do mesmo objetivo”.

Segundo Carolina, a evangelização deve ser vista como um “mapa de viagem”, que orienta as pastorais a serem presentes e realizarem ações benéficas para a comunidade. “Nós corremos o risco de reduzir a compreensão de missão evangelizadora a um projeto de conversão e não é isso que a igreja espera de nós”, comenta. “O nosso processo de evangelização é esse grande mapa de viagem que nós fomos convidados a realizar e a levar conosco para a comunidade educativa que caminha junto. As perguntas que precisamos fazer são, por exemplo, a educação católica hoje é boa notícia? qual a relevância dela para a comunidade? A partir desses grandes questionamentos, a gente começa a refletir e nos conduzir nesse itinerário”, afirma Mureb.

Educação humanista

Para as palestrantes, a pandemia agravou a crise antropológica mundial, que envolve questões políticas, econômicas, sociais e culturais.  A situação vem sendo tratada pelo  Papa Francisco há anos, especialmente no “Pacto Educativo Global”. Um chamado para que todas as pessoas no mundo priorizem uma educação humanista e solidária como modo de transformar a sociedade. “Esse pacto não é um currículo, é uma grande articulação de instituições e de iniciativas, que deve se tornar um grande referencial teórico”, aponta. “E nesse sentido, o nosso Papa está sempre disposto a sentar e estabelecer alianças e projetos com todos aqueles que tenham uma boa proposta para tornar a nossa sociedade um lugar mais humano”.

O Papa Francisco tem uma compreensão de educação e caminho da igreja que mostra não ser  possível silenciar a mensagem evangelizadora e sim realizar uma interpretação da identidade carismática, de modo a ter uma interlocução relevante e trazer significado para as gerações atuais. Dessa forma, a pastoral deve seguir o mesmo movimento proposto por ele, que consiste em três fortes elementos: atuar “em saída” – ir ao encontro da comunidade; movimento sinodal – de caminhar juntos e  dentro das instituições; e entender que o trabalho pastoral não é isolado e não pesa sobre ele a responsabilidade de ser irradiador do ‘carisma’ da instituição. “Esses pontos devem estar muito claros, senão fica apenas aquele pastoralista atuando desesperadamente, tentando estar em mil lugares ao mesmo tempo, quando o movimento em pastoral deve ser de todos ao redor”, afirma Carolina. “E evidentemente devemos considerar também que toda realidade é poliédrica, ou seja não é única e nem sempre compreesível”.

Papel das pastorais nas instituições de ensino

O Papa Franscisco aponta três verbos que ajudam a compreender como a pastoral deve atuar nas instituições: encontrar, olhar as pessoas reais e ir ao encontro delas no momento e no caminho que elas estão; escutar, não oferecer soluções e nem respostas prontas; e discernir, examinar tudo e refletir, buscando o melhor caminho e as novas linguagens. A partir de uma metáfora gramatical, Raquel traz uma “conjugação pastoral” para as expressões propostas pelo pontífice, como: encontrar as memórias, os sujeitos e os projetos de vida; escutar os contextos, as novas narrativas e as ausências e silêncios; e discernir os propósitos, as presenças, as linguagens e as mediações.

Raquel comenta que a pastoral escolar é uma reflexão recente e, por isso, o assunto requer  um processo de construção mais exigente. “Em alguns lugares nós ainda temos uma mentalidade um pouco frágil”. Ela pontua que, às vezes, existe a dificuldade de “encaixar” a pastoral  na instituição, que muitas vezes a tem ali apenas como enfeite. “A lógica é justamente essa: nós ampliarmos a compreensão de pastoralidade, não pensarmos nela como um setor da instituição, mas sim como um movimento que precisa passar da portaria até a sala de aula. A ‘pastoralidade’ é uma dimensão do nosso ser com a escola católica”, ressalta.

Colét também afirma que é preciso oferecer para os jovens e suas famílias uma escuta de qualidade, entendendo os contextos em que as pessoas estão inseridas, sejam eles geográficos, familiares etc. “A gente precisa dessa percepção, de um olhar de escuta gratuita, sem a preocupação de tirar algumas lições disso ou querer já dar algum diagnóstico”, aponta. “Além disso, é fundamental entender que a escuta precisa ser consciente e qualificada, e às vezes nós não somos essa pessoa”.

Raquel também aponta como é positivo ver que entidades como a  ANEC estão dando espaço para a formação de pastoralistas. “Esse pensamento mais sistemático, ampliado e reflexivo sobre pastoralidade é recente. E que bom que estamos construindo ele juntos”, comemora. “Dessa forma, chegamos ao verbo discernir, que não é apontar se está certo ou errado. É perceber, nesse contexto, qual é o caminho mais sintonizado com o evangelho. É o caminho que passa por opções estruturais e por um direcionamento, justamente para superar o amadorismo na pastoral. É entender que todo o trabalho realizado pela pastoral precisa ter uma intencionalidade, tem que estar conectado com o projeto pedagógico da instituição”, afirma.

Ponto de encontro

Carolina aponta que pensar a pastoral hoje, nas instituições, é adotar uma postura de pluralidade religiosa e eclesial. “Esse é um momento muito rico e  que nós, no movimento da educação católica, precisamos entrar no processo para  absorver o que é esse movimento de uma educação que se coloca em saída, que se dispõe a dialogar com as diversas instâncias”, afirma Mureb. “É a analogia entre o poliedro e a fronteira.  Na forma geométrica, é justamente nos cantinhos que estão as fronteiras que permitem que as diferentes partes que unam. A fronteira é muito mais esse espaço de encontro e unidade do que o limite”, finaliza Raquel.

O Fórum

Com o objetivo de discutir as tendências e as projeções para a Educação Católica no país, a Associação Nacional de Educação Católica do Brasil – ANEC realiza o Fórum Nacional da Educação Católica e a Assembleia Geral Ordinária. Com o tema ‘Fazer novas todas as coisas: tendências e projeções para a Educação Católica’, o encontro reúne mais de 450 participantes, entre profissionais que atuam nas instituições de educação católica do país.

Além de palestras, workshops e rodas de conversa, o Fórum conta ainda com a feira ExpoAnec, que tem a participação de diversos players do mercado educacional, apresentando as novidades e as tendências do segmento. Mais informações: https://anec.org.br/eventos/forum-nacional-da-educacao-catolica-e-assembleia-geral-ordinaria/#programacao

A ANEC

A Associação Nacional de Educação Católica do Brasil (ANEC) tem como missão articular, congregar e representar as Instituições Católicas de Educação do Brasil, assim como promover uma educação cristã evangélico-libertadora, entendida como aquela que visa à formação integral da pessoa humana, sujeito e agente de construção de uma sociedade justa, fraterna, solidária e pacífica, segundo o Evangelho e o ensinamento social da Igreja. Além disso, proclamar a liberdade de ensino consagrada na Declaração Universal dos Direitos Humanos, na Constituição da República Federativa do Brasil e nos ensinamentos do magistério eclesial. Promover ainda a pesquisa científica, a extensão social e o desenvolvimento cultural a serviço da vida.

 


Remodal