Em Fórum Nacional de Educação Católica, especialistas avaliam impactos da paralisação das escolas e defendem curar sequelas e investir na inovação
Um diagnóstico do ensino no Brasil, não somente nas escolas católicas, mas como um todo, foi o tema dominante das palestras no primeiro dia do Fórum Nacional de Educação Católica, que está sendo realizado até esta quarta-feira (15) em Brasília. Para os dirigentes dessas instituições de ensino, o retorno às aulas presenciais na educação básica, no início de 2022, tornou evidente um quadro desafiador: é necessário recuperar o conteúdo não incorporado e curar sequelas psicossociais que atingem alunos e professores.
“Foram quase dois anos de afastamento total do ambiente escolar presencial. Não é possível negar as perdas pedagógicas e socioemocionais. E agora? Temos de pensar como vamos nos recuperar! E como nós podemos mitigar estas perdas? Como os países estão tentando resolver essas perdas?”, indagou a professora de matemática Amabile Pacios, vice-presidente da Federação Nacional das Escolas Particulares (FENEP) e ex-dirigente do Colégio Marista e da Universidade Católica.
A educadora e integrante da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educaçãoo (CNE), mostrou na palestra “Educação católica: um diagnóstico multidimensional – Diagnóstico da educação básica” que a pandemia gerou retrocessos no ensino e nas relações interpessoais.
Para superar os desafios, Amábile recomendou que as escolas busquem saídas para recompor a educação, reduzir a evasão e melhorar o acolhimento aos alunos.
“É preciso levar para as nossas escolas um ensino de qualidade, cuidar dos nossos alunos, mas ajudar, também, a escola pública. Somente assim faremos um país melhor e mais educado”, afirma.
Segundo a professora, o cenário educacional brasileiro só vai mudar a partir da formulação de políticas públicas comprometidas com o enfrentamento de seus muitos desafios, como por exemplo a própria complexidade do sistema educacional, onde a União, os Estados e os municípios respondem pela educação e oferecem variados graus de qualidade no ensino.
As escolas particulares detêm 22% das matrículas. São 8 milhões de alunos. Os outros 80% estão na escola pública, e muitas delas ainda não voltaram ao modelo presencial. As plataformas ajudam, mas não são essenciais. Fora os alunos que não têm acesso à internet. “Se queremos um ensino de qualidade, com ótimos profissionais no mercado de trabalho, é preciso lutar por uma escola pública de qualidade”, explicou.
Ensino superior: muita regulação, pouca inovação
No segundo painel da manhã, o professor Luiz Roberto Liza Curi, convidou, no Fórum de Educação Católica, docentes e gestores da educação para uma reflexão sobre os desafios do ensino superior na pós-pandemia.
Na palestra “Educação católica: um diagnóstico multidimensional – Diagnóstico do ensino superior”, o integrante do Conselho Nacional da Educação e do Conselho Superior da Capes, mostrou que a atuação universitária de excelência precisa estar ligada às transformações sociais que promove. Para isso é necessário desafiar as normas vigentes e as estruturas curriculares que limitam a capacidade de criar e inovar das instituições e dar mais autonomia para as universidades repensem currículos focados em competências e não apenas em conteudismo.
O sociólogo e doutor em Economia fez um diagnóstico do ensino superior, tarefa que, para ele, começa por se avaliar a educação brasileira como um todo. Para o professor, a fase mais importante da regulação do ensino superior é a avaliação, mas esta, ao longo dos anos, acabou se concentrando mais nas normas do que na qualidade do ensino propriamente.
Para ele, é preciso refletir sobre as responsabilidades que cabem às universidades nesse cenário de desestímulo ao ensino, mas também sobre o papel dos processos regulatórios que limitam a atuação e capacidade de criar e inovar das instituições.
“Os processos avaliativos e regulatórios que regem as ações das Instituições de Ensino Superior têm a função de orientar suas atividades, mas acabaram causando um encolhimento na capacidade de inovação”, explicou o professor. “Normas são importantes”, continua ele, “mas não modificam processos acomodados. Em geral, as instituições miram o que a norma deixa, e se esquecem de verificar o quanto os egressos desse ensino geraram de emprego e renda. ”
Curi tem defendido no CNE “menos conteúdo e mais qualificação, com processos inovadores e formação da autonomia intelectual”. “Uma atuação universitária de excelência está mais ligada às transformações que provoca do que à manutenção das práticas vigentes. Precisamos desafiar as estruturas curriculares e baseá-las em competências, não em conteudismo. Existem problemas estruturais, mas vejo que há boas notícias vindas do Inep que trazem algumas ações disruptivas, novos modelos de ensino que foram colocados em prática na pandemia, e devem ser aperfeiçoados”, contextualizou o sociólogo e doutor.
O sociólogo afirmou que o número de matrículas virou sinal de expansão, mas crescimento em matrículas não significa qualidade. “Os números do Inep mostram que há mais de oito milhões de matrículas nas universidades. Não é pouco, mas não temos uma taxa de concluintes que acompanhe as matrículas. Hoje a taxa de desistência é de 53%. A expansão deve ser sinônimo de qualidade no ensino. É preciso oferecer qualidade e não somente matrícula. A desistência é o pior dos cenários. Atender a regulação é fácil, o difícil é atender a sociedade brasileira”, concluiu
A pandemia, segundo o palestrante, afetou o cenário do ensino superior, levando a um baixo teor de inovação no processo de aprendizado, além de ocasionar altos índices de desistência nos cursos de graduação, tanto em instituições públicas como privadas, em ofertas presenciais e EAD.
O Fórum
Com o objetivo de discutir as tendências e as projeções para a Educação Católica no país, a Associação Nacional de Educação Católica do Brasil – ANEC realiza o Fórum Nacional da Educação Católica e a Assembleia Geral Ordinária. Com o tema ‘Fazer novas todas as coisas: tendências e projeções para a Educação Católica’, o encontro reúne mais de 450 participantes, entre profissionais que atuam nas instituições de educação católica do país.
Além de palestras, workshops e rodas de conversa, o Fórum conta ainda com a feira ExpoAnec, que tem a participação de diversos players do mercado educacional, apresentando as novidades e as tendências do segmento. Mais informações: https://anec.org.br/eventos/forum-nacional-da-educacao-catolica-e-assembleia-geral-ordinaria/#programacao
A ANEC
A Associação Nacional de Educação Católica do Brasil (ANEC) tem como missão articular, congregar e representar as Instituições Católicas de Educação do Brasil, assim como promover uma educação cristã evangélico-libertadora, entendida como aquela que visa à formação integral da pessoa humana, sujeito e agente de construção de uma sociedade justa, fraterna, solidária e pacífica, segundo o Evangelho e o ensinamento social da Igreja. Além disso, proclamar a liberdade de ensino consagrada na Declaração Universal dos Direitos Humanos, na Constituição da República Federativa do Brasil e nos ensinamentos do magistério eclesial. Promover ainda a pesquisa científica, a extensão social e o desenvolvimento cultural a serviço da vida.
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