O encontro presencial do Fórum de Reitores e Pró-reitores da Associação Nacional de Educação Católica (ANEC), realizado nos dias 21 e 22 de outubro, em Brasília, reuniu líderes de Instituições de Ensino Superior católicas de todo o país. O encontro foi marcado por reflexões sobre as transformações nas políticas públicas da educação, a sustentabilidade das universidades confessionais e a missão evangelizadora das IES católicas, num contexto de rápidas mudanças culturais e tecnológicas.
O padre Sérgio Mariucci, presidente do Conselho Superior ANEC, destacou o fortalecimento dos vínculos entre reitores e pró-reitores e o lançamento do documento de incidência política da ANEC, apresentado durante o jantar com parlamentares. “Vivemos um momento de comunhão, de diálogo com a CNBB e de presença forte das nossas instituições na construção de políticas públicas”, afirmou.
A Irmã Iraní Rupolo, presidente da ANEC, avaliou o evento como “intenso e promissor”. “Cultivamos a esperança, partilhamos experiências e reafirmamos o papel das universidades católicas na promoção do bem comum, com sentido educativo e católico”, disse.

A abertura contou com a presença de Irmã Iraní Rupolo, padre Anderson Pedroso, reitor da PUC-Rio; padre João Paulo, representante da CNBB; e padre Sérgio Mariucci.
“É essencial que mantenhamos viva a vocação de educar para o bem comum, movidos pela fé e pelo desejo de testemunhar Jesus Cristo no ambiente acadêmico, inspirando nossos estudantes e professores a serem protagonistas de uma sociedade mais justa”, declarou o Padre João Paulo.
O marco do primeiro dia do Fórum foi a alocução de Dom Giambattis Diquattro, núncio apostólico no Brasil. Ele destacou que a prioridade da Igreja e das universidades católicas deve ser a “comunhão evangélica”.

“Num mundo fragmentado e dividido, a comunhão é a prioridade e o testemunho da Igreja. Não é uma comunhão estratégica, mas evangélica — a graça do Evangelho deve criar a realidade própria dessa comunhão”, afirmou.

Um dos temas centrais do primeiro dia foi o painel “O presente é o futuro da educação superior – uma perspectiva das políticas públicas”, conduzido pelo professor Ulysses Teixeira, diretor de Avaliação da Educação Superior do INEP.
Ele apresentou as mudanças no Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes), incluindo a reformulação do ENADE, com a aplicação do Enamed (para Medicina) e do Enad Docente, voltado às licenciaturas.
“Essas mudanças precisam ser construídas de forma coletiva, com a participação das universidades. O papel da ANEC é essencial nesse diálogo para aperfeiçoar as políticas públicas”, afirmou o diretor do INEP, ao destacar também a importância da autoavaliação institucional e da valorização das atividades de extensão como expressão do impacto social das universidades católicas.
A coordenadora de Fomento Institucional da CAPES, Priscila Lelis Cagni, trouxe um diagnóstico contundente sobre a falta de valorização da pós-graduação no país.

“Os deputados não investem porque desconhecem a importância da pós-graduação. Nem 5% saberiam diferenciar o que é uma formação stricto sensu de uma lato sensu”, afirmou.
Ela defendeu uma campanha permanente de sensibilização do poder público e destacou que as universidades comunitárias seguem invisibilizadas nas políticas governamentais.
Outro painel tratou da “Urgência da formação de professores: um pacto pelas licenciaturas”, com Márcia Serra Ferreira, diretora de Formação de Professores da CAPES.

Ela revelou que a taxa de desistência nas licenciaturas em Física chega a 73% e que o PIBID, apesar de robusto, atende apenas 5% dos alunos desses cursos.
Programas recentes, como o Pé-de-Meia Licenciaturas, tentam reverter o quadro oferecendo bolsas a estudantes com boas notas no Enem que optam por cursos de formação docente.
O ex-secretário de Educação e coordenador do Movimento Profissão Docente, Haroldo Corrêa Rocha, alertou para a queda na formação de professores no setor comunitário:

“Em 2010, as instituições confessionais formavam 30 mil professores; em 2024, apenas 6 mil. É um efeito da concorrência predatória do EAD autoinstrucional, que não garante a qualidade necessária à docência”, disse.
A nova presidente do CONFENEM e conselheira do CNE, Elizabeth Guedes, defendeu a criação de uma “carreira de estado” como garantia de valorização dos docentes.

O segundo dia do evento iniciou com a celebração eucarística, presidida pelo bispo auxiliar de Manaus, Dom Joaquim Hudson. Em seguida, ele conduziu uma conferência com o tema: “Por uma pedagogia da esperança na Educação Superior à luz do Pacto Educativo Global”.

Dom Joaquim trouxe uma mensagem inspiradora sobre a “pedagogia da esperança”, em reflexão à luz do Pacto Educativo Global proposto pelo Papa Francisco em 2020.
“Esperançar significa corresponsabilizar-se, esperançar significa continuar teimando, continuar sonhando, mas não um sonho utópico futurístico, um sonho que reconhece o quanto já se foi feito. (…) Isso tudo passa pela educação. Ela foi, é e continuará sendo uma proposta de transformação”, declarou o bispo.
O tema “Sustentabilidade das IES Católicas: responsabilidade e compromisso”, com participação de representantes do MEC e gestores das PUCs e universidades comunitárias.
Adilson Santana, diretor de Políticas e Programas de Educação Superior do MEC, destacou os desafios do Prouni e Fies, especialmente quanto à inadimplência e ocupação de vagas.

Marcos Kutova, da PUC Minas, apresentou dados do Censo do Inep mostrando a queda das vagas presenciais (de 5 milhões em 2015 para 4,26 milhões em 2024) e o avanço do EAD (de 2,7 milhões para 18,4 milhões no mesmo período). “As instituições católicas precisam reafirmar sua identidade e o valor do encontro presencial, oferecendo o que o mercado não entrega: formação integral”, afirmou.
Já Leonardo Galvani, pró-reitor da Universidade Católica de Brasília, abordou “a perspectiva macro do mercado educacional”. Segundo ele, as IES Católicas precisam se preocupar com o “tripé do compromisso social, gestão financeira, inovação curricular e pedagógica, como o uso da IA e digitalização de processos”. Ele citou o “tiktok” como uma forma de se comunicar com o público alvo que são os jovens, em sua maioria.
No painel de encerramento sobre as Agendas das IES Católicas, a presidente da ANEC, Irmã Iraní Rupolo, e Gregory Rial, Gerente da Câmara de Ensino Superior, falaram sobre a agenda política e institucional da Associação, especialmente sobre a presença no Legislativo e os recentes documentos – com as principais pautas da educação católica – que foram entregues aos parlamentares.
A agenda latino-americana foi apresentada pelo Padre Anderson Pedroso, reitor da PUC-Rio e presidente da Oducal. Ele elogiou a iniciativa da ANEC de promover um fórum para encontro, partilha e formação dos Reitores com foco na esperança e na estratégia educacional.
“Nós temos muitas esperanças, mas tem que colocar tudo isso junto, imaginar um cenário positivo, onde a gente possa estabelecer prioridades, onde a gente possa animar uns aos outros e caminhar juntos. Então, eu acho que organizar a esperança é o fundamental e a gente começou a fazer isso aqui”, declarou.

Ao final do Fórum, o pró-reitor da Universidade Católica de Brasília, padre Isaac Celestino Assis, reforçou a importância da agenda da pastoral universitária. “Para reforçar nossa identidade, precisamos colocar a Pastoral no lugar que ela merece — inspirando projetos e ações que impactem a sociedade.”
O encerramento do evento foi marcado por reflexões sobre a missão das instituições católicas de ensino diante dos desafios contemporâneos da educação.
A reitora da Pontifícia Universidade Católica de Goiás, Olga Ronck, destacou o papel histórico e atual da ANEC na formação de professores e na promoção da esperança como valor educativo. “Esses dois dias de cultivo da esperança sobre as licenciaturas foram muito significativos, porque sabemos que as universidades católicas têm, em sua origem, cursos de formação de professores. Vivemos uma crise sem precedentes nesse campo, e reafirmar o papel da qualidade na formação docente é uma aposta no futuro do país”, disse. E Olga ainda acrescentou: “Sem professor, não há perspectiva de desenvolvimento social, científico ou tecnológico. Essa é uma esperança que devemos sempre cultivar nas instituições católicas.”
Na mesma linha, Frei Mayko Ataliba, do Instituto São Boaventura, ressaltou o caráter de comunhão e diálogo promovido pelo encontro. “Tivemos um diálogo muito produtivo com representantes do MEC, especialmente sobre os processos de avaliação. Esse encontro tem sido uma oportunidade valiosa de união, troca de experiências e fortalecimento das nossas missões educacionais”, declarou.
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