A ecologia integral se torne um novo paradigma da justiça, porque a natureza não é uma “mera moldura” da vida humana: este é o coração da segunda Encíclica do Papa Francisco, “Laudato si’, sobre o cuidado da Casa comum”.
Assinada pelo Pontífice em 24 de maio de 2015, Solenidade de Pentecostes, e divulgada em 18 de junho do mesmo ano, o documento está no centro, até o próximo domingo, da “Semana” especial que comemora seu quinto aniversário. Dividida em seis capítulos, a Encíclica, que leva o título da invocação de São Francisco de Assis no “Cântico das criaturas”, reúne, na ótica da colegialidade, várias reflexões das Conferências Episcopais do mundo e se conclui com duas orações, uma inter-religiosa e uma cristã, pela proteção da Criação.
“Laudato si’, mi’ Signore, per sora nostra matre Terra”: Francisco de Roma coloca-se na esteira de Francisco de Assis para explicar a importância de uma ecologia integral que se torna um novo paradigma de justiça, em que a preocupação com a natureza, a equidade para com os pobres, o compromisso com a sociedade, são inseparáveis. Nos seis capítulos da encíclica, o Papa evidencia que a nossa terra, maltratada e saqueada, requer uma “conversão ecológica”, uma “mudança de rumo”, para que o homem possa assumir a responsabilidade de “cuidar da casa comum”. Um compromisso que também inclui a erradicação da miséria, atenção aos pobres e o acesso igual para todos, aos recursos do Planeta.
Portanto, a Encíclica faz um diagnóstico detalhado dos males do Planeta: poluição; mudanças climáticas; desaparecimento da biodiversidade; dívida ecológica entre o norte e o sul do mundo, ligada a desequilíbrios comerciais; antropocentrismo; predomínio da tecnocracia e das finanças, que leva a salvar os bancos em detrimento da população; propriedade privada não subordinada ao destino universal dos bens. Parece prevalecer uma “cultura do descarte”, do usa e joga fora que leva à exploração de crianças, ao abandono dos idosos, à redução dos outros à escravidão e à prática do comércio de diamantes ensanguentados. É a mesma lógica de muitas máfias, escreve Francisco, a lógica do descarte dos nascituros que não correspondem aos projetos dos pais.
Diante de tudo isso, explica a Encíclica, é necessária uma “revolução cultural corajosa” que mantenha em primeiro plano o valor e a proteção de toda vida humana, porque a defesa da natureza “é incompatível com a justificativa do aborto” e “o abuso de qualquer criatura é contrário à dignidade humana”. O Papa também reitera a necessidade de tutelar o trabalho, parte do significado da vida nesta terra, e pede o diálogo entre política e economia, em nome do bem comum. No âmbito internacional, o Pontífice não poupa um julgamento severo sobre as cúpulas mundiais relativas ao ambiente que decepcionaram as expectativas por falta de decisão política. No âmbito nacional, no entanto, Francisco exorta a política a sair da lógica do lucro imediato e da corrupção, em nome de processos de tomada de decisão honestos e transparentes. Em essência, o que é necessário é uma nova economia, mais atenta à ética.
Certamente, sublinha a Encíclica, é preciso investir na formação para uma ecologia integral, para compreender que o ambiente é um dom de Deus, uma herança comum a ser administrada, não para ser destruída. Bastam até pequenos gestos cotidianos: fazer uma coleta seletiva, não desperdiçar água e comida, apagar as luzes desnecessárias, cobrir-se um pouco mais em vez de ligar o aquecedor. Dessa forma, sentiremos que “temos uma responsabilidade para com os outros e com o mundo e que vale a pena ser bons e honestos”. Por fim, a Encíclica nos convida a olhar os Sacramentos, em particular para a Eucaristia, que “une o céu e a terra e nos orienta a ser guardiões de toda a Criação”. E então “Laudato si’”, conclui o Papa Francisco, porque “além do sol, no final, nos encontraremos face a face com a beleza de Deus”.
No próximo domingo, 24 de maio, se realizará uma “oração comum pela terra e pela humanidade”. Terá início um Ano Especial dedicado à Laudato si’, promovido pelo Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, marcado por vários encontros sobre o tema da ecologia integral. O Ano Especial se concluirá em 2021, mas tem como objetivo propor um compromisso público comum com a “sustentabilidade total” a ser alcançada em 7 anos. Estão envolvidas as famílias, dioceses, ordens religiosas, universidades, escolas, unidades de saúde e o mundo dos negócios, com especial atenção às empresas agrícolas.
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