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Comunicar a fé em um mundo multifacetado: desafios e estratégias de fortalecimento da identidade confessional na Educação Católica

04/07/2025
Por  ANEC Comunicação

O arcebispo de Goiânia e membro do Conselho Superior da ANEC, Dom Justino Medeiros, e a segunda-tesoureira e diretora do Setor de Pastoral da ANEC, Irmã Carolina Mureb Santos,  participaram da primeira mesa-redonda sobre “Comunicar a fé em um mundo multifacetado: desafios e estratégias de fortalecimento da identidade confessional na Educação Católica”, durante o VII Congresso Nacional de Educação Católica.

Dom Justino destacou os temas centrais discutidos e os desafios que acompanham a missão educadora da Igreja no Brasil. Ele destacou que a constante transformação da sociedade exige que as escolas confessionais repensem suas práticas sem perder sua essência. “A percepção de que vivemos em um mundo em transformação nos desafia a revisitar o essencial da tradição cristã-católica”, afirma.

Segundo o arcebispo, é preciso abrir espaço para o diálogo com o mundo contemporâneo, sem renunciar aos fundamentos da fé cristã. Isso implica cultivar valores como acolhimento, fraternidade, cultura da paz e cultura do encontro — temas amplamente valorizados pelo magistério da Igreja, inclusive pelo Papa Francisco.

Dom Justino também citou a instrução publicada pelo Dicastério para a Cultura e Educação em 2022, que enfatiza a importância da escola católica como espaço de escuta e diálogo. “A missão formadora da escola precisa refletir a dinâmica do ser cristão: alguém aberto ao outro e comprometido com os ensinamentos evangélicos”, pontuou.

Ao abordar os impactos da tecnologia, o arcebispo reconhece que a inteligência artificial inaugura novas possibilidades, mas também impõe dilemas éticos e limitações pedagógicas. Ele mencionou que até mesmo o Papa Leão XIV, recém-eleito, destacou essa questão como um dos grandes desafios de seu pontificado.

O palestrante alerta para a influência das redes sociais no comportamento de estudantes, educadores e famílias. Plataformas, como o TikTok, ou tornam o consumo de informação cada vez mais veloz, breve e superficial. “O mundo das redes sociais nos transforma em consumidores — primeiro de dados, depois de produtos”, observa.

Nesse contexto, as instituições educacionais enfrentam o desafio de manter sua relevância e autoridade, adaptando-se a um ritmo de mudança acelerado. “Embora vivamos esse tensionamento, as instituições continuam sendo referência. Um currículo validado por instituições renomadas segue sendo desejado”, ressalta.

O arcebispo também abordou mudanças no campo religioso. Apesar do avanço do laicismo e da associação equivocada entre fé e irracionalidade, ele acredita que o ser humano conserva sua sede de transcendência. “A dimensão religiosa é constitutiva do existir humano, ainda que se manifeste de formas diversas”, afirma.

Dados recentes do Censo de 2022 indicam que 56,75% da população brasileira se identifica como católica, enquanto 9,28% se declaram sem religião. Entre os jovens, esse último grupo já representa a maior parcela — tendência observada também em Goiânia, onde 30% dos jovens dizem não ter religião, superando os 27% de evangélicos e os 23% de católicos.

O VII Congresso Nacional de Educação Católica ocorre em um momento simbólico de transição na Igreja, com o início do pontificado de Leão XIV. Para Dom Justino, esse novo ciclo representa uma chance de renovar a paixão pela missão educadora.

Irmã Carolina trouxe contribuições relevantes ao debate sobre o papel das instituições educacionais da Igreja em uma sociedade em constante transformação. Ela trouxe uma provocação importante: como compreender e preservar a identidade das instituições católicas diante de um cenário social marcado pela fragilidade das relações humanas, pela liquidez das ideias e pela volatilidade dos projetos?

Nesse mundo multifacetado e instável, o debate sobre a identidade — seja ela pessoal, institucional ou cultural — se tornou urgente. Como destacou a palestrante, é necessário entender de que lugar estamos falando quando propomos cuidar da identidade das instituições de educação católica.

Inspirando-se nas reflexões do educador Tomás da Del Rún sobre os estudos culturais, a palestrante argumentou que a identidade não deve ser vista como uma essência fixa ou monolítica. “Ao contrário, trata-se de um processo contínuo, em constante evolução, moldado pelas relações que construímos. Nesse sentido, a identidade é também performática: ela se revela e se desenvolve conforme é vivida, concretizada e expressa em ações”, enfatizou.

Porém, há riscos quando se busca respostas fáceis para garantir essa identidade. Um deles é o saudosismo institucional — a tentação de recuperar modelos do passado acreditando que podem servir como solução para os dilemas do presente. A repetição acrítica de práticas pedagógicas ou eclesiais que funcionaram em outros contextos pode limitar a capacidade de resposta criativa às demandas contemporâneas.

Outro risco é o fechamento ao que é diferente. Em tempos de insegurança e crise, o que é estranho pode ser interpretado como ameaça. “Mas, do ponto de vista da fé cristã, o estrangeiro — aquilo que é diferente de nós — deve ser acolhido, pois pode trazer a novidade e a presença de Deus. O Papa Francisco já alertou sobre os perigos dos nacionalismos e da construção de muros que, sob a justificativa de proteger uma identidade, acabam por negar o outro”, destacou.

Assim, o desafio colocado para as escolas e universidades católicas é claro: evitar tanto o refúgio no passado quanto o fechamento ao diverso. Em vez disso, é preciso cultivar uma identidade dinâmica, capaz de dialogar com o mundo contemporâneo, de escutar as novas linguagens, e de integrar o diferente como força que renova.


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