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Educação que faz a diferença: ANEC realiza live sobre Currículo Antirracista

06/06/2024
Por  ANEC Comunicação

Em maio, a Associação Nacional de Educação Católica (ANEC) realizou uma live com o tema “Currículo Antirracista e Educação Católica”. O encontro teve como objetivo promover a conscientização sobre o racismo e discutir como a educação pode impactar positivamente a sociedade.

Roberta Guedes, gerente da Câmara de Educação Básica da ANEC, foi responsável por dirigir o bate-papo, que também contou com a participação da diretora 2ª tesoureira da ANEC, Irmã Carolina Mureb, da professora Rosemary Francisca Silva e da professora Janine Rodrigues.

A gerente da Câmara de Educação Básica da ANEC iniciou a live, levantando a seguinte questão: “Que currículo é esse que precisamos defender?”. Em seguida, a anfitriã passou a fala para a Irmã Carolina Mureb, que afirmou que — pensando na educação católica e nesse novo currículo — é necessário alinhar duas propostas muito próximas.

“Se olharmos para o Papa Francisco, ele vai falar sobre a necessidade de uma nova aliança em prol das gerações mais jovens, que vai resultar, então, na proposta do Pacto Educativo Global. Francisco entende que, para que essa educação seja, de fato, transformadora […] em vista daquilo que a nossa sociedade precisa, não bastam esforços isolados, é preciso uma aliança de diversas instituições e diversos atores para que essa educação possa acontecer”, comenta.

A outra proposta, segundo Camila, gira em torno de um relatório apresentado pela UNESCO, cujo título é “Reimaginar nosso futuro juntos”, de 2022. Um dos temas tratados pelo documento é a necessidade de um novo contrato social. “Então, são duas palavras, duas expressões diferentes, mas que, na verdade, expressam uma mesma compreensão da necessidade atual”, ressalta a Irmã.

Ir. Carolina ainda destaca que, seguindo esta linha de aprendizado, é necessário criar um novo arranjo que envolve diversos atores sociais na construção de uma proposta de educação que responda à realidade na qual estamos inseridos atualmente. “A ideia de interdependência, numa perspectiva, digamos assim, laica, está muito próxima da compreensão de fraternidade universal, incluindo o próprio planeta”.

Outro ponto importante levantado diz respeito ao modo como pensamos no próximo: não como um concorrente que deve ser superado, não como um inimigo a ser eliminado, mas como um irmão. “Sem essa interdependência, vai ficar muito difícil — para não dizer impossível — pensarmos na construção de futuros pacíficos, justos e sustentáveis”, reforça.

Tragédia no RS gera reflexão sobre a construção de um futuro coletivo 

A diretora 2ª tesoureira cita, ainda, sobre a importância da união em meio às tragédias climáticas, principalmente diante do que vem sendo acompanhado no Rio Grande do Sul: “Nós precisamos, com muita honestidade, questionar se as nossas práticas pedagógicas, na verdade, não estão estimulando ou reforçando mentalidades e práticas competitivas, excludentes e preconceituosas”.

Ela destaca a importância de ir além: “A pauta da live aborda sobre o currículo antirracista, mas questões relativas à sustentabilidade, ao consumo desenfreado — que impactam na vida do planeta — são pontuais nas nossas atividades. Nós deixamos a desejar no investimento em processos pedagógicos que possam promover uma conscientização progressiva e, eventualmente, se tornarem um compromisso transformado”.

Neste contexto, a educadora deixa evidente o potencial transformador e renovador que a educação tem. “Quando se fala de possibilidade de futuro, quando se fala de possibilidade de transformação, a educação sempre aparece como processo que é fundamental e relevante”, afirma.

“O momento é desafiador para educação e para educação católica, mas mostrar que a nossa identidade confessional […] está muito alinhada com os anseios mais profundos da humanidade, além das práticas pedagógicas que a gente precisa inserir nos nossos cotidianos escolares”, diz irmã Carolina.

A importância de proporcionar sentimento de pertencimento e valorização no ambiente escolar

Na sequência, a professora Rosemary Francisca da Silva foi convidada para dar continuidade ao assunto. Ela explica que, dentro dessa conjuntura, surge a necessidade de abordar práticas relacionadas à política antirracista, reconhecendo o papel crucial da educação. 

“Dentro dessa visão abrangente, a política antirracista vem despontando como um eixo fundamental para a política de oportunidades educacionais. Ao olharmos para a história do Brasil, é impossível ignorar as profundas cicatrizes deixadas ao longo do período da escravidão e pela persistência do racismo estrutural”.

Segundo a professora, essas desigualdades refletem de maneira clara no sistema educacional, onde estudantes negros e indígenas enfrentam obstáculos adicionais em seu percurso educacional, desde o acesso à educação até a conclusão de seus estudos. “Tudo isso é um obstáculo, se torna um obstáculo”, afirma.

Além disso, Rosemary cita que a política antirracista do PNE reconhece a importância da formação de professores em questões raciais. Isso envolve não apenas capacitar os educadores para lidar, adequadamente, com situações de discriminação e preconceito em sala de aula, mas também promover uma reflexão profunda sobre os seus próprios privilégios e preconceitos inconscientes.

A professora também ressalta que outro aspecto crucial é a implementação de políticas de ações afirmativas, como a inclusão por meio de cotas e a criação de espaços de acolhimento e apoio nas escolas para combater o racismo institucional. “No entanto, apesar dos avanços proporcionados pelo PNE, ainda há muito a ser feito”, destaca.

Por fim, a professora afirma a importância de entender mais sobre a proposta do que é o educar através do humanismo solidário. “A importância de uma educação que, não apenas transmita conhecimentos acadêmicos, mas promova uma educação que não apenas fica ali desfocado dos valores de fraternidade, de justiça”, diz Rosemary.

Ela afirma que a integração da política anti racial nas escolas católicas, em alinhamento com os princípios do plano nacional de educação e a visão educacional promovida pelo Papa Francisco, representa uma oportunidade única de promover uma transformação no sistema educacional e na sociedade. 

“Ao reconhecer e enfrentar as injustiças e desigualdades raciais que permeiam a nossa realidade, as escolas católicas assumem um papel de liderança na promoção da justiça social, da inclusão, do respeito à diversidade”, explica. 

“Ao implementar práticas e políticas que valorizem a dignidade de cada indivíduo, independente da sua origem ético-racial, enquanto escola católica, nós não apenas cumprimos a uma missão educacional, mas também contribuímos para a construção de um mundo mais humano, solidário, em consonância com os ideais cristãos de amor ao próximo e à justiça”, concluiu a convidada.

Por fim, a professora Janine Rodrigues foi convidada a falar, ela que é diretora do projeto Piraporiando, uma organização que tem como principal trabalho a educação antirracista. Eles trabalham desde a formação de professores, na produção e curadorias de material didático e paradidático, além de fazer parcerias com o poder público, como o Ministério da Igualdade Racial, a Secretaria de Educação e o próprio Ministério da Educação.

Em sua fala, Janine afirmou que o Brasil é um país com uma história muito recente e que 388 anos de escravidão não vão desaparecer sem um trabalho conjunto por parte da iniciativa pública e privada. “Então, achar que a educação antirracista se fará com palestras pontuais, com datas de calendário, que também são pontuais, é uma mistura de irresponsabilidade e ingenuidade. A educação é estrutura, ela é cultura, ela é cotidiana. E ela também passa pelo reconhecimento do próprio racismo”, afirma.

Segundo a especialista, para termos instituições antirracistas, precisamos que as pessoas sejam, primeiramente, antirracistas. Tornar este processo mais próximo do indivíduo, tornaria as iniciativas mais simples e menos burocráticas, ela afirma. A professora ainda trouxe uma série de questionamentos sobre como as escolas devem se posicionar frente à intolerância, inclusive a religiosa, dentro das escolas. 

Na relação entre fornecedores e clientes, as escolas não devem se anular para agradar o que alguns pais dos alunos querem. “Quando essa relação cliente e fornecedor atravessam os portões da escola, a gente tem um grande perigo, porque a responsabilidade da escola não é atender o desejo individual de cada família, a responsabilidade da escola é educar.”


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