No longínquo ano 2000, mais precisamente no dia 28 de abril daquele ano, aproximadamente 180 países, entre eles o Brasil, reuniram-se em Jomtien, Tailândia para firmarem um pacto mundial pela educação. Mas para além do conhecimento histórico e analisando a importância da reflexão acerca do simbolismo da data, o que é educação para você?
Muitas pessoas e aqui incluo inúmeros professores, muitos até doutores ou mesmo P.h.D’s, pensam e pior acreditam que educação é escolarização. Ledo engano. É impossível falar em educação no singular, educação apenas existe no plural: educações. Por isso o artigo na verdade chama-se “Dia Mundial das Educações” e é sobre estas educações que pretendo discorrer nessas breves linhas, de maneira introdutória por meio de algumas provocações, sem nenhuma pretensão de esgotar o assunto, até mesmo porque é e seria impossível, resumir educações na quantidade de espaço que tenho, para que o artigo não se torne extenso e enfadonho.
Educação é a força estranha que temos contato desde quando nascemos. Educação é o nome que damos ao ato do pai que instintivamente coloca o filho nos braços e numa singela brincadeira, finge jogá-lo ao ar. Neste simples gesto ele apresenta o mundo ao filho… Como se dissesse: “Você é meu filho, mas estou criando-lhe para o mundo”. Educação é também o olhar repreensivo ou de aprovação que um adulto lança a uma criança em geral do ciclo familiar em resposta a algum ato.
Muitos educadores, pensadores e filósofos fizeram da educação a obra de suas vidas. O francês Émile Durkheim, sociólogo francês do século XIX, diz que a educação é a forma pelo qual as gerações mais velhas ensinam valores, atitudes, preceitos as gerações mais novas, quando estas estão preparadas físicas, moral e intelectualmente para isto. Já Emmanuel Kant, filósofo prussiano do século XVIII, evidencia que a educação tem a função de desenvolver todas as potencialidades dos seres humanos, eu particularmente gosto dessa definição. A educação é este elo que nos difere dos outros animais e nos permite provocar alterações intencionais no mundo. O grande educador brasileiro Paulo Freire, muito reduzido em relação a análise do seu legado, sobretudo nas academias brasileiras, ao referir-se a educação diz que ninguém aprende sozinho e que a educação é uma troca entre, nas palavras dele, “educador e educando”, numa relação que prima pela horizontalidade. Em Pedagogia do Oprimido ele afirma: “Ninguém educa ninguém, ninguém se educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo”.
Cada sociedade educa de uma forma, de acordo com os valores e preceitos morais do seu tempo, da sua cultura e de seu grupo social. Por isso podemos perceber diferenças entre a educação que era praticada em Atenas e em Esparta. Na última o homem era educado para a guerra, para batalha. Na primeira era educado para arte, para cultura, é o conceito que conhecemos como paideia.
Mas e no Brasil como anda a educação, aqui faço um recorte, especialmente a educação escolarizada? Sem dúvida a escola moderna cumpriu um papel importante no desenvolvimento da humanidade. Tivemos grandes avanços tecnológicos graças a esta educação. Contudo, posso afirmar que este modelo educacional, que herdamos da organização fabril, esta esgotado, falido para ser mais enfático.
A fragmentação do saber, compartimentado em disciplinas cria um indivíduo fragmentado que não consegue enxergar o todo. Falta aos nossos cidadãos, especialmente os que têm contato com o conhecimento escolar a visão sistêmica, aquela que consegue ver o todo, ter capacidade de dialogar com o complexo, com a complexidade que a vida é e não resumi-la em verbos pretéritos imperfeitos, teoremas de Pitágoras ou mesmo equações do segundo grau…
Às vezes nos perguntamos por que a escola tornou-se desinteressante. A reposta está no fato de que a escola não mais educa, e muito menos ensina, simplesmente treina. Desde a pré-escolar, passando pelo ensino fundamental e ensino médio sem contar os malfadados cursinhos pré-vestibulares, nossos alunos são treinados ou para serem força de trabalho bem adestrada para o mercado, se antes apertavam parafusos…hoje apertam teclas em escritórios, ou para marcarem V ou F, certo ou errado no gabarito das faculdades.
Nesse dia mundial da educação, cabe a nos repensarmos esse modelo de educação que começa na escola dentro das salas de aula e reflete-se em todos os espaços sociais. Precisamos refletir acerca dos símbolos que a escola traz: o conhecimento compartimentalizado disposto numa grade escolar, o sino na escolar (que absurdo, escola não é fábrica) símbolo maior de uma fragmentação do ensino, a não contextualização do ensino, a falta de interdisciplinaridade e da transdisciplinaridade, elementos indispensáveis para uma nova educação.
O filósofo Nietzsche evidencia que cada um é gênio a medida que lança um olhar novo sobre cada coisa, cabe a nós, especialmente aquele que fizeram da educação sua profissão transpor isso para nossa prática pedagógica, sob pena de perdemos o bonde da história e perdermos mais uma geração, oxála que isso não aconteça, que a educação seja a centelha que acende o fogo da criatividade e mantenha acessa a chama da esperança e da curiosidade. Desenvolver a criticidade dos nossos alunos, para que não aceitem as coisas como elas são. O dramaturgo alemão Bertold Brech já dizia: “Aprenda o mais simples para aqueles cujo hora chegou nunca é tarde demais, aprenda o ABC…Você tem que assumir o comando”. Precisamos estimular a excitação por aprender, o que quer dizer que devemos ter fome, tesão pelo saber, a vontade de conhecer é mais eficaz para o processo de aprendizagem do que a manutenção dos deveres cumpridos. Transformar, modificar as tarefas escolares, na atualidade repetitivas e desinteressantes, e vincular o aprendizado à ação, aprender deve ser importante pelo seu valor próprio, não pelos benefícios prometidos por um futuro que talvez nem venha acontecer. Viva o dia 28 de abril, Dia Mundial das Educações.
(Edergênio Vieira, professor de Políticas Educacionais no Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia de Goiás, Campus Anápolis)
Fonte: Diário da Manhã